Era um jeito doce de olhar
pela janela, apoiava seus cotovelos no parapeito, mas queria
mesmo é jogar os pés para fora e sentar-se, “os sofás tinham que ser
posicionados para a rua”, pensava ela. Observava quem passava na rua, olhava
como se adivinhasse a história de cada um daqueles passantes. Na verdade
tentava, era uma das coisas que mais gostava de fazer enquanto esperava o
almoço. "Esse de bicicleta deve estar atrasado pra encontrar sua
namoradinha na frente do mercadinho do fim da rua". Inventava ou coisas de
comida, porque quase sempre estava com fome, ou pensamentos sobre namoro. Esse
último sim andava ocupando sua mente a maior parte do tempo.
Tinha
um leve interesse pelo rapaz que passava todo dia por volta das dezoito horas,
carregava livros, provavelmente fazia o caminho até a faculdade, andava como
quem tivesse vergonha do que estava fazendo, seus cabelos pretos caiam sobre a sua
testa, mas gostava mesmo quando o vento os carregava para trás, o via já no início
da calçada, às vezes fazia um sinal com cabeça, cumprimentando-a, era quando
não estava atrasado, por vezes passava correndo e sem livros.
A esse horário, o sol que se botava, iluminava Sophie na janela,
seus cabelos mais escuros davam a impressão de serem fios de cobre por esse
horário, a cor de seus olhos se abriam como se acompanhasse a cor de seu
cabelo, notava-se cada pontinho de seu olho.
Adorava Fernando Pessoa, seu único livro dele, comprado de um
sebo no centro da cidade, fazia sozinho o caminho por onde Sophie andava, era
seu dicionário, seu tarot, e seu companheiro de viagens, essas últimas eram das
quais Sophie mais desfrutava.
Saiu da janela, sentou no sofá, e foi viajar.
(...)