quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Abaixo a ditadura


    Desde o meu ensino fundamental eu sempre observei essa foto com a curiosidade de saber qual história por trás dela, quem escreveu aqueles dizeres, quais eram os nomes desses jovens, faziam o que, estudavam o que, como eles conseguiram escrever naquela parede em épocas tão repressivas, a parede pertencia a qual construção, o que se passava no local, mas tudo logicamente ficou na minha cabeça, circundando anos da minha vida cada vez em que eu via a mesma foto e tantas outras com o mesmo tema, porém, a única certeza que eu tenho são das convicções desses jovens: eles queriam a liberdade.
    Foi num deste surtos imaginativos que eu peguei um lápis e um papel e me pus a escrever o que perpassou pela minha imaginação durante anos e sem nunca dar escape a esses, posso assim dizer, sentimentos. Lá vai...
    Julia, apertou o sinto frouxo de sua calça jeans de cintura alta e prendeu seu cabelo loiro, usava uma camiseta laranja e suava como se tivesse saído de uma série de exercícios físicos, mas o que ela e seu amigo Gaspar, de aspecto cansado, faziam num prédio abandonado a quase um quilômetro de um muro com os dizeres: abaixo a ditadura, com o odor ainda exalando tinta fresca.
    Era ano de 1969 no Brasil, época mais repressiva da ditadura militar no governo de Emílio Garrastazu Médice e um ano após o decreto do AI-5, a efervescência cultural ou da contra-cultura mundial pedia um mundo livre sustentado pela paz e pelo amor. E no Brasil, os alarmes contra a repressão disparavam, eram os jovens implorando a liberdade.
    Júlia e Gapar entraram num edifício de construção inacabada e abandonado, no qual serviam de residência para mendigos, fugiam de dois militares após terem sido flagrados em um ato de protesto no muro de um colégio.
    Sobem até a cobertura e ali esperam o tempo passar, abraçados um ao outro num desejo de proteção mútua. Gaspar diz que tudo dará certo, ela chora assustada; milhares de idéias atordoam suas mentes. Julia ascende um cigarro e senta no chão esperando o mesmo do seu companheiro. Por instantes se sentem mais seguros, mesmo naquele lugar tão frio e sujo. Segundos depois sorriem satisfeitos da missão cumprida (...).

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