
Foi num deste surtos imaginativos que eu peguei um lápis e um papel e me pus a escrever o que perpassou pela minha imaginação durante anos e sem nunca dar escape a esses, posso assim dizer, sentimentos. Lá vai...
Julia, apertou o sinto frouxo de sua calça jeans de cintura alta e prendeu seu cabelo loiro, usava uma camiseta laranja e suava como se tivesse saído de uma série de exercícios físicos, mas o que ela e seu amigo Gaspar, de aspecto cansado, faziam num prédio abandonado a quase um quilômetro de um muro com os dizeres: abaixo a ditadura, com o odor ainda exalando tinta fresca.
Era ano de 1969 no Brasil, época mais repressiva da ditadura militar no governo de Emílio Garrastazu Médice e um ano após o decreto do AI-5, a efervescência cultural ou da contra-cultura mundial pedia um mundo livre sustentado pela paz e pelo amor. E no Brasil, os alarmes contra a repressão disparavam, eram os jovens implorando a liberdade.
Júlia e Gapar entraram num edifício de construção inacabada e abandonado, no qual serviam de residência para mendigos, fugiam de dois militares após terem sido flagrados em um ato de protesto no muro de um colégio.
Sobem até a cobertura e ali esperam o tempo passar, abraçados um ao outro num desejo de proteção mútua. Gaspar diz que tudo dará certo, ela chora assustada; milhares de idéias atordoam suas mentes. Julia ascende um cigarro e senta no chão esperando o mesmo do seu companheiro. Por instantes se sentem mais seguros, mesmo naquele lugar tão frio e sujo. Segundos depois sorriem satisfeitos da missão cumprida (...).
Sem comentários:
Enviar um comentário