Não vejo razão em amá-lo tanto, do contrário, vejo todas razões do mundo para querê-lo como ninguém. Minha razão, por mais inteligente que pudesse ser, não decifra esse mistério de amar tão intensamente como eu vivo em poder agradá-lo. Tenho em mim todas as formas possíveis de amar, a raiva, o desejo, o apego, o afeto, o rancor, a plenitude, a desconfiança, a confiança, tão intensas que jamais consegui lidar com elas até hoje. Os sentimentos mais perversos, mais românticos, mais lindos, mais nobres, mais agressores, mais apaixonantes; todos apenas formas extremas do mesmo pêndulo, mas com suas origens em um desejo tão fortemente vinculado ao amor, que se emaranham nesse mesmo elo.
Podemos ser surdos, cegos, mudos, porém, o amor não tem dessas, ele projeta o que ele realmente é, sem falsas visões, sem falsos dizeres, sem ditadura de beleza, sem cárcere da moda, a única prisão encontra-se na sua duração, pois uma vez comensurado, jamais terminado. Ele se constrói e reconstrói por imaginações fundamentadas em encontros e desencontros que por vezes acontecem entre dois amantes, ora por sonhos, ora por visões reais (sim, aquele encontros em paradas de ônibus), assim, ele segue facetado dos outros sentimentos já mencionados.
Ora, bem-aventurados aqueles que amam, e sofrem por amar, isso mesmo, sofrer! O que seria da nossa vida se não sofressemos por amor? Talvez não teríamos grandes pintores, grandes compositores, grandes amantes dos quais fizeram de suas amarguras sentimentais a mais belas obras primas da humanidade. O que seria da nossa vida sem o responsável pelo fator primordial da evolução da humanidade? Mesmo o homem, ainda tão pobre espiritualmente, tem o poder de amar e mesmo assim comete não raros absurdos, que por vezes nos perguntamos se são verdadeiramente humanos. Mas se há tantos, conceitualmente, desumanos por cometerem tais atos, quem podemos classificar pertencentes a raça do homem, se estamos proporcionalmente divididos entre os maus e bem-feitores.
Enfim, podemos estar ou fortemente apaixonados (como se isso não fosse uma redundância), ou enraivecidos, ou desconfiados, ou tomados por diversos outros sentimentos por quem se ama, mas todos se resumem a formas de amar, afinal, o amor não é só projetado aos casais dos contos da disney, cuja história não nos mostra todos os caminhos do qual o amor percorre até seu estado pleno, sua essência guarda muito mais do que um final feliz.